sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Noite na Taverna - Álvares de Azevedo

Sinopse: Proporciona ao leitor uma viagem ao mundo fantástico da melancolia e morbidez que caracterizam a época em que viveu Álvares de Azevedo. Numa taverna, um grupo de conhecidos reúne-se para espantar o tédio com o vinho nos lábios e contos macabros afluindo da mente.

"Ergui-a do leito, carreguei-a com suas roupas diáfanas, suas formas cetinosas, os cabelos soltos úmidos ainda de perfume, seus seios ainda quentes…
Corri com ela pelos corredores desertos, passei pelo pátio—a ultima porta estava cerrada: abri-a. Na rua estava um carro de viagem: os cavalos nitriam e escumavam de impaciência. Entrei com ela dentro do carro. Partimos. Era tempo. Uma hora depois amanhecia."


Sempre fui fã de Álvares de Azevedo,  principalmente dos poemas sombrios e melancólicos que ele escreveu, mas nunca havia lido nenhuma obra dele que não fosse as suas poesias. Essa obra me surpreendeu deveras, pois não sabia o que esperar dela, e foi quase como ler alguma obra de Byron ou Edgar Allan Poe, não tem como não notar como a influência desses autores sombrios tiveram na vida de Álvares de Azevedo.
 
Noite na Taverna foi publicada após a morte do autor ano de 1855. O livro é composto por sete contos, a primeira parte é uma introdução e os demais contos tem por o subtítulo o nome de cada personagem que irá contar a sua história.

Uma noite do Século: O primeiro capítulo traça o cenário da taverna e apresenta os personagens em uma roda de bebedeira e devassidão, em seguida os personagens (Solfieri, Johann, Gennaro, Bertran, Hermann e Arnold) contam cada um a sua história em tom notívago, sombrio e vampiresco.

Solfieri: conta uma história de quando estava na Itália, em Roma. Em uma noite fria e chuvosa, ele se depara com alguém chorando em uma janela. E ao ver quem chora, descobre uma mulher de deslumbrante beleza. Ela deixa a casa e ele a acompanha até um cemitério próximo. Lá, a mulher chora ajoelhada diante de uma lápide enquanto Solfieri adormece.
Ele ficou tão encantado por ela que nunca conseguiu esquecê-la, um ano depois, vagando pelas ruas de Roma após uma noite de muita farra, entra sem saber como em uma igreja. Vê um caixão e fica pasmo ao ver que quem está no caixão é a mulher do cemitério. Percebe que ela ainda vive, e decide levá-la para a sua casa. Chegando em casa, a mulher morre dois dias e duas noites depois, de uma febre muito alta. Solfieri a enterra em seu quarto e encomenda uma estátua da defunta.

Bertran: narra seu caso de amor por uma espanhola de Cádiz chamada Angela. Ele vive intensamente esse amor, mais seu pai, que mora na Dinamarca o manda chamar pois está muito doente, ele vai ao encontro do pai e volta para Angela dois ano depois, mas ele a encontra casada e com um filho, mas a paixão de ambos não morreu e decidem continuar se amando, porém o marido descobre tudo, antes que ele a mate, ela mata seu marido e filho, fugindo em seguida com Bertram.
Um dia, sem maiores explicações, ela o deixa. Ele passa a viver desesperado tentando esquecê-la, um dia é atropelado por uma carruagem, sendo socorrido em seguida por um velho que tem uma filha de dezoito anos, ele se encanta pela moça e decidem fugir juntos, mas logo ele se cansa dela e a vende para um pirata, desgostosa e infeliz e moça envenena o pirata e em seguida se joga nas aguas do oceano.
Ele vai para a Itália, e lá decide suicidar-se, mas é salvo por um marinheiro a quem mata sem o querer. Mas é resgatado e passa algum tempo no navio, conhece a esposa do capitão e se apaixona por ela, sendo logo correspondido. O navio é atacado por piratas e afunda, salvando-se apenas o capitão, sua mulher e Bertram. Após algum tempo, sem água e sem comida, os três tiram a sorte para ver qual morrerá e servirá de alimento para os outros. O capitão perde, mas não aceita seu destino e luta com Bertran por sua vida, mas acaba perdendo, assim o capitão serve de alimento para os dois, mas a 'comida', eles estão doidos de fome, mas ainda resistem, quando chegam a praia, estão desvairados e Bertran acaba matando a mulher.

Gennaro: Conta que aos dezoito anos foi aprendiz de um pintor chamado Godofredo Walsh. Que se casou com uma moça jovem chamada Nauza, que era apenas dois anos mais velha que sua filha. Gennaro se apaixona pela esposa de seu mestre. Mas Laura a filha do pintor ama Gennaro, e dedica todo o seu amor a ele, que acaba não recusando, mas tempos depois ela engravida dele, mas quando lhe propõe casamento, ele diz que não a ama, para que o bebê não nasça ela decide tomar veneno e acaba morrendo.
O pintor não sabe de nada e depois que a filha se foi ele passa a visitar todas as noites o seus quarto e Gennaro passa a dormir com a mulher dele. Desconfiado, o velho faz Gennaro confessar todos os seus atos, depois o leva a um pequeno precipício a fim de matá-lo, mas Gennaro acaba sobrevivendo, decide voltar a casa do pintor para se vingar, mas chegando lá, encontra sua amada Nauza e o pintor mortos.

Claudius Hermann: é um apostador e é em uma corrida de cavalos que ele vê pela primeira vez a bela duquesa Eleonora, e acaba se apaixonando Depois a reencontra no teatro e passa a segui-la durante uma semana, querendo tê-la para si. Ele a deseja tanto que consegue entra no quarto da duquesa e coloca um sedativo em seu vinho, aproveitando-se dela e voltando várias vezes depois.
Em uma dessas noite, o marido dela, o Duque Maffio, acaba bebendo um pouco do narcótico por acidente. Claudius, então sequestra a duquesa. Ao chegarem a uma estalagem, no outro dia, ela acorda e ele lhe conta tudo, forçando-a a ficar com ele.Alguns dias depois, quando volta para casa, encontra ela e seu marido mortos sobre a cama.

Johann: A história narrada por Johann tem início em uma taverna. Ele estava jogando bilhar e perdendo para o seu adversário, um rapaz louro chamado Arthur, porém quando chega a ver de Johann jogar, Arthur esbarra na mesa, desviando as bolas e ele acaba perdendo. Johann irritado, desafia o rapaz para um duelo de morte. Partem para um hotel para pegar as armas, mas antes do duelo Arthur escreve dois bilhetes. Arthur perde o duelo, e pede que Johann pegue os bilhetes. Um dos bilhetes é endereçado a sua amante, contendo um endereço e uma hora marcada, acompanhado de um anel. 
Johann vai ao encontro, que é um lugar as escuras, mas acaba não vendo a amante de seu adversário, ele dorme com ela e quando sai do quarto é atacado por um vulto. Ele se defende e tudo vira uma luta e ele acaba matando seu agressor. Arrastando-o para a luz, descobre que o vulto era seu irmão, e a moça com quem dormira, sua irmã.

O Último Beijo de Amor:  É noite alta na taverna, todos dormem. Um mulher pálida, vestida de negro adentra o aposento procurando alguém. Vê Arnold, tenta beijá-lo, mas o deixa em paz, volta-se para Johann. Traz consigo uma lanterna e um punhal,  crava o punhal no pescoço de Johann. 
Ela vai até Arnold e o desperta, ele a reconhece como irmã de Johann, mas agora ela é a prostituta Giorgia, ele pede que o chame pelo seu nome verdadeiro, Arthur. E assim ele recorda-se do duelo, do tempo passado no hospital para se recuperar, o desespero e a vida de devassidão a que se entregou por não encontrar mais Giorgia. 
Ele deseja ficar com ela, mas a Giorgia acha que é tarde demais, assim pede-lhe um beijo de despedida, pois vai morrer. Leva Arnold até o corpo de Johann, e conta-lhe que o matou por ter sido por ele desonrada, a ela que era sua irmã. Arnold fica horrorizado, Giorgia cai no chão, desesperado Arnold pega um punhale crava-o em seu peito caindo sobre sua amada, morrendo em seguida.

Logo nas primeiras páginas, a obra já nos mostra o forte clima da geração do mal do século, através da irreverência, divagações filosóficas, sofrimento por amor, lascívia e principalmente a morbidez. Os personagens tem uma visão macabra do amor, e por causa dele tornam-se violentos e cruéis, cheio de vícios e dor, são libertinos e assassinos. Em cada relato contado vai surgindo um clima inumano e bizarro, repleto de temas como; violência, corrupção, incesto, adultério, necrofilia, traição, antropofagia e assassinatos. 
 
Ao ler essa obra realmente me surpreendi com o modo que Álvares de Azevedo a escreveu, se não fosse pela linguagem poética lírica da obra, poderia dizer que o livro fora escrito por um autor contemporâneo. 

Apesar de ter gostado muito da obra, achei forte demais os personagens matarem tudo e todos em nome do 'amor', além de fazerem coisas bem bizarras por causa dele, eles parecem ter uma visão meio doentia e obsessiva em relação ao que eles chama de amor, o que torna tudo muito mais sombrio e aterrador. Mas sem sobra de dúvida essa é uma verdadeira obra fantástica dos nossos clássicos brasileiros.

7 comentários :

  1. Oie...fico imaginando este livro na realidade, os bate papos que não devem rolar.. :) Interessante, diferente!

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  2. Nhai, sei lá. Acho que eu não gostaria desse livro, não, hein...

    Ótima resenha! :)

    Bjs

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  3. Esse livro é um classico
    Ate me envergonho de não ter lido ele ainda "/
    Beijos

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  4. Este é o maior representante da melancólica e pessimista produção de Alvares de Azevedo.
    Excelente escolha!
    Beijocas

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  5. Oiii Kézia!
    Eu lembro que estudei esse livro no colegial, mas acho que não é o meu tipo de leitura... :)
    Beijos!

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  6. Oi flor,
    Nossa voltei ao tempo agora...menina lembro que li esse livro para o vestiba...ahaha e isso faz um bom tempo já mas lembbro que foi um dos melhores que eu li ele me chocou bastante na epoca com alguns contos meio dramaticos ahaha...estavamos falando sobre isso ontem eu e meu namo autores brasileiros outro que entrou na conversa foi erico verissimo O CONTINENTE adorei esse livro tambem aind amais por contar da minha terra tche...ahahahaah..
    Bjksss
    Raquel Machado
    Leitura Kriativa

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  7. Gostei muito da resenha ao estilo detalhado. Li-o há um bom tempo. Minha memória não me permite que lhe conte fielmente as impressões de outrora, mas lembro-me que gostei. Beijocas

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